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4. Armazenagem ao nível de pequenas herdades

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4.1 Métodos de armazenagem
4.2 Armazenagem ao nível de aldeias
4.3 Secagem
4.4 Combate de pragas ao nível de pequenas herdades
4.5 Referências literárias

 

4.1 Métodos de armazenagem

O camponês armazena tradicionalmente seus grãos num estado não malhado. Por um lado, ele frequentemente não tem o tempo de malhar os grãos depois da colheita, por outro lado, ele confia em que o grão armazenado nesse estado seja menos susceptível aos ataques das pragas. O período de armazenagem a nível de pequenas herdades dura geralmente entre 6 e 12 meses.

Depois da colheita, o grão é conservado em contentores tradicionais de armazenagem muito variados, os quais se adaptam geralmente de maneira perfeita às condições sociais, económicas e climáticas do lugar, sendo os mesmos também produzidos com materiais existentes na região. Pode-se distinguir três formas fundamentais de armazenagem ao nível de pequenas herdades: sistemas de armazenagem abertos, semiabertos e fechados.

4.1.1 Sistemas de armazenagem abertos

Em regiões de condições climáticas quentes e húmidas, utilizam-se quase só sistemas de armazenagem abertos porque o produto ainda está húmido ao ser armazenados Um método muito difundido consiste em dispor a colheita em camadas, espigas ou panículas, colocando estas sobre plataformas assentadas sobre pilares de madeira. Um tecto de palha serve de protecção contra a chuva.

Figura 14

Às vezes, encontra-se a colheita suspensa em armações ou debaixo dos tectos das casas. Neste último caso, o fogo da cozinha serve para secar a colheita e repelir os insectos.

Os sistemas abertos são geralmente construções muito simples, no quais a higiene é difícil de ser mantida.

Vantegens:

- O arejamento natural possibilita a continuação do processo de secagem durante a arrnazenagem.
- O desenvolvimento de fungos é reduzido graças ao arejamento continuo.

Desvantegens:

- Insectos, roedores e pássaros têm acesso livre ao produto armazenado.

4.1.2 Sistemas de armazenagem semiabertos

As estruturas dos sistemas de armazenagem semiabertos, são difundidas particularmente nas regiões semiáridas. Elas incluim contentores feitos de ramos entrelaçados ou palha, ao igual que armações de madeira com esteiras de palha sobre as quais são colocados os produtos. A colheita é armazenada geralmente no estado não malhado, ou seja como espigas ou paniculas. Evitase o contacto com o solo por meio de fundamentos de pedras para que a humidade não penetre no lugar de armazenagem Um tecto de palha serve de protecção contra a chuva.

Figura 15

Sistemas de armazenagem semiabertos oferecem uma melhor protecção contra a intempérie que as abertas, mas o arejamento é reduzido e não proporcionam protecção nenhuma contra a entrada de pragas.

4.1.3 Sistemas de armazenagem fechados

Nas regiões áridas utiliza-se em geral para a armazenagem de sorgo, milho miúdo, leguminosas, arroz cru e amendoim, contentores para uma armazenagem fechada feitos de barro, muitas vezes misturado com palha rachada. A mistura utilizada para a construção destes contentores é chamada "banco". A colheita é armazenada geralmente depois de ter sido malhada. Praticamente não se conhecem problemas com a humidade ou com a condensação devido ao baixo teor em humidade do produto armazenado e a excelente isolação oferecida pelo barro utilizado na construção. Encontram-se estes contentores de "banco" em todos os tamanhos e formas. Geralmente, eles são fechados com uma tampa e protegidos da intempérie com um tecto de palha. Grandes pedras são utilizadas como fundamento e para evitar a entrada da humidade pelo solo.

Figura 16

São utilizados também calabaças, potes de argila, contentores de madeira e antigos recipientes de óleo, obtendo-se bons resultados ao nível da armazenagem em pequenas herdades, especialmente no caso de sementes e leguminosas de grãos.

Um problema que pode surgir no caso dos sistemas de armazenagem fechados é o da condensação, especialmente em contentores de metal (p.ex. recipientes de óleo). Deve-se prestar também uma atenção particular a conservação de temperaturas de armazenagem constantes, p.ex. com sombra.

Vantagens das estruturas de armazenagem fechadas:

- Protecção geralmente eficiênte contra penetração de pragas.
- Microclima fresco e seco, particularmente nas construções de argila (banco).
- Os contentores fechados proporcionam condições impermeáveis ao ar. O oxigénio é consumido pela respiração das pragas e dos grãos, o que leva a uma autodestruição das pragas. O oxigénio remanente é suficiente para manter a faculdade de germinação das sementes.

Desvantagens:

- As construções de argila não são muito resistentes à chuva, o que leva a trabalhos de reparação. Fissuras são um esconderijo ideal para os insectos.
- Existe o perigo da condensação, particularmente em contentores de metal.

A armazenagem de pequenas quantidades em desaterros subterrâneos, é uma forma especial de armazenagem fechada, tendo sido um sujeito muito tratado na literatura correspondente como sendo um método de armazenagem prometedor. Não existem dúvidas sobre as vantagens de uma tal forma de armazenagem fresca, quase impermeável ao ar e não tão sensível as flutuações da temperatura.

No caso do desaterro ficar satisfactoriamente impermeável ao ar e à água, o desenvolvimento de insectos e ácaros, ao igual que a propagação de mofo, podem ser reduzidos a um mínimo. Deve-se escolher o lugar apropriado com o tipo de solo certo. Deve-se evitar a entrada da água subterrânea e da chuva e as paredes do desaterro devem ser à prova de agua. Em regiões de clima suficientemente seco en no caso de pequenas herdades, os desaterros subterrâneos presentam-se como uma alternativa recomendável aos sistemas de armazenagem conhecidos.

4.2 Armazenagem ao nível de aldeias

A armazenagem de produtos alimentícios ao nível de aldeias em forma de bancos de cereais foi se propagando desde o começo dos anos setenta, particularmente na África. Os bancos de cereais são dirigidos por cooperativas ou grupos de camponêses. A finalidade deste método é a de assegurar a permanência das reservas alimentícias nas zonas atingidas pela penúria e permitir aos camponêses de vender seus excedentes quando podem obter preços melhores.

Estes armazéns, com uma capacidade entre 10 e 50 t presentam frequentemente características arquitectónicas em contradição com os imperativos de uma armazenagem de perdas reduzidas. Os principios são essencialmente os mesmos que os válidos para a construção de armazéns maiores (veja-se secção 5.1.1).

Figura 17

O projecto GTZ de protecção das colheitas desenvolveu um tipo de armazém aperfeiçoado com uma capacidade de aprox. 25 t, podendo ainda ser ampliado se for necessário. As paredes são feitas de blocos de cimento, o tecto abobadado é de betão reforçado.

As vantagens deste tipo de armazenagem são as seguintes:

- De fácil construção pela comunidade da aldeia seguindo o principio de auto-ajuda com uma supervisão de um especialista (veja-se também a secção 4.5)

- Boas possibilidades de higiene de armazenagem

- Condições de temperatura favoráveis como resultado do material utilizado e da forma do telhado (contrariamente aos telhados usuais de chapa ondulada)

- Boas possibilidades de fechar hermeticamente e consequentemente de fumigação

- Aberturas de arejamento dirigíveis desde o exterior

- Seguro contra penetração de insectos ou roedores

- Construções duráveis

Outro tipo de construção recomendável para a armazenagem colectiva, é a utilização de tijolos secos ao ar. As paredes são rebocadas com argamassa de cimento. Uma estrutura de suporte apropriada possibilita a construção de um telhado de betume e argila.

4.3 Secagem

4.3.1 Secagem ao sol

Antes de ser armazenado, o produto deve estar suficientemente seco, ou seja possuir um teor em humidade de equilíbrio. Isto e particularmente difícil em regiões húmidas. Os métodos tradicionais servem-se do sol e do vento ou do fogo. O produto e colocado sobre o chão, sobre plataformas ou outras construções especiais para a secagem. Ao secar directamente ao sol, sobre o chão, deve-se cuidar que o produto não absorva a humidade. Recomenda-se para isto a utilização de lonas ou esteiras. A espessura da camada de espigas, panículas ou grãos, não deve exceder os 5 cm para poder garantir um arejamento bom e constante. O produto deve ser remexido regularmente para que possa secar uniformemente.

Figura 18

À noite, o produto deve ser amontoado e coberto.

Figura 19

Em determinados lugares de secagem, existe sempre o perigo de contaminação por pragas. Por isso, é absolutamente necessário manter limpos esses lugares.

Danos causados pelo calor podem resultar de uma exposição prolongada ao raios solares ou da secagem do produto em cima do fogo (grãos rebentam, perda da faculdade de germinação). Deve-se cuidar durante a secagem de não exceder as temperaturas máximas seguintes:

Feijão: 35°C
Sementes de cereais : 43°C
Cereais para o consumo: 60°C

4.3.2 Construção de secagem "crib"

Esta construção de secagem concebida em Nigéria, provou ser muito útil, especialmente para secar espigas de milho. A construção consiste numa armação de madeira ou bambu com paredes de treliça metálica ou filetes de madeira e um telhado de colmo. A sua largura máxima é de 60 a 80 cm. Isto garante um bom arejamento e uma boa secagem, mesmo em regiões húmidas. Dependendo das condições atmosféricas, as espigas são deixadas na construção por um período de até 3 meses antes de ser colocadas no armazém Em algumas regiões, estas construções servem de armazém.

Figura 20 Construção de secagem "crib"

4.3.3 Secadores solares

Os secadores solares baseam-se no princípio de conduzir o ar esquentado pelo sol pelo produto.

Figura 21

As vantagens dos secadores solares comparados com os métodos tradicionais de secagem ao ar livre são:

- Possibilidade de controlar a temperatura
- Protecção do produto contra a intempérie e contra a infestação de pragas
- Custos baixos

As desvantegens são:

- Despesas de aquisição relativamente altas
- Capacidade extrernadamente limitada

Lamentavelmente, os secadores solares não conseguiram ainda se estabelecer na quantidade desejada devido a razões sócio-culturais, técnicas e financeiras. Além disso, o céu coberto que se encontra sobre muitas regiões na época de colheita, limita a utilização da energia solar.

O problema técnico de criar suficiente corrente de ar nos secadores, não foi resolvido por completo ainda. Esta corrente de ar é necessária para evacuar o ar saturado depois de ter passado pelo produto. Senão, pode aparecer condensação ou moto. Sistemas solares simples, que consideram as necessidades do usuário, podem ganhar em importância no futuro.

4.3.4 Secadores de mato

Secadores de mato são construções simples em forma de túnel, compostas de argila ou de recipientes de metal pelas quais circula o ar quente com a ajuda de um fogo aberto. O produto, repartido sobre uma plataforma posicionada en cima do túnel, é secado pela radiação do calor. Uma secagem apropriada só pode ocorrer se o produto é repartido em camadas não mais espessas que 2 3 cm. Ao não haver geralmente nenhuma possibilidade de regular o calor, podem ocorrer facilmente sobreaquecimento e danos ao produto.

Figura 22

Os secadores de mato são fáceis de construir e muito efectivos. Além da utilização dos restos de cereais como combustível, utiliza-se madeira ou carvão vegetal. É precisamente por esta razão, que os secadores de mato são bastante discutidos.


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