10. Métodos de combate de pragas integrados
Sumàrio
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10.1
Métodos mecánicos
10.2
Métodos físicos
10.3 Métodos biológicos de combate
10.4
Métodos biotécnicos
10.5
Referências literárias
No esforço de prevenir e de combater as pragas que atacam os produtos armazenados, aplicam-se em primeiro lugar as medidas de higiene e os métodos químicos. Não obstante, aumentou consideravelmente no ultimo decénio a importância dos métodos físicos e biológicos para o combate das pragas. As razões para esta tendência são as restrições no referente aos tratamentos químicos dos grãos em muitos países, ao igual que o aumento do desejo de produtos "livres de resíduos" por parte dos consumidores, especialmente os dos países industrializados.
Enquanto que os métodos biológicos só ocupam um lugar de importância prática limitada, existem alguns métodos físicos que tornaram-se rutina em muitos países. Em alguns casos, a prática de métodos de substituição élimitada pelos custos de aplicação. A demanda crescente relacionada com o uso seguro de insecticidas e fumigatórios, faz que esses procedimentos sejam cada vez mais complicados e, consequentemente, mais caros, resultando numa relação custo-rendimento que se torna a favor dos métodos físicos e biológicos, os quais são também menos nocivos para o ambiente.
Nos países em vias de desenvolvimento, as normas técnicas requeridas são ainda factores restritivos para a aplicação de métodos que requerem aparelhos e equipamento especiais ou, por exemplo, uma estanqueidade ao gás superior à média das estruturas de armazenagem.
Trata-se aqui geralmente de métodos com os quais se procura separar as pragas do produto armazenado. Além dos métodos mecánicos mais usuais utilizados ao nivel da armazanagem de pequenas herdades: crivar, separar ou aventar, utilizam-se diferentes tipos de instalações de limpeza ao nivel de armazenagem a grande escala. O mais importante é destruir imediatamente os insectos encontrados nos resíduos da limpeza. As larvas que vivem dentro do grão são difíceis de eliminar.
10.1.1 Embalagem
Para evitar a penetração das pragas no produto armazenado, é indispensável cuidar de uma boa embalagem. Não obstante, isto só é possível no caso de ter material suficientemente resistente aos ataques das pragas. Muitas vezes, é difícil encontrar o material de embalagem adequado às exigências. Utilizam-se geralmente juta, plástico, folhas, papel ou contentores de madeira ou cartão. Estes frequentemente não oferecem protecção mecánica nenhuma contra as pragas.
Os materiais de embalagem só podem ser atacados por pragas com aparelhos bucais suficientemente fortes ou com dentes. Isto p.ex. é o caso das espécies de pragas seguintes:
· Rhyzopertha dominica
· Sitophilus spp. Lasioderma serricorne
· Stegobium paniceum
· Plodia interpunctella
· Roedores
10.1.2 Transformação
A transformação é de extrema importância quando se trata de conservar produtos facilmente estragáveis. No caso dos alimentos básicos, devem-se mencionar os produtos tradicionais muito diversificados resultantes da mandioca, os quais são transformados para poder ser armazenados a longo prazo. Não obstante, no caso dos grãos cerealíferos, a transformação élimitada a casos especiais devido a que o grão vivente, com o seu teor em humidade relativamente baixo, é uma mercadoria com muito boas qualidades de armazenagem.
Em alguns casos, o grão é armazenado de acordo à tradição, imediatamente depois de ser colhido, sem malhar nem descamisar ou descascar. Alguns exemplos são:
· armazenagem de arroz cru (paddy)
· armazenagem de espigas de milho com camisas
· armazenagem de sorgo e milho miúdo em panículas
· armazenagem de leguminosas e amendoim em cascas.
Estas práticas têm em comum o facto que os grãos ficam nos seus envoltórios naturais, evitando assim a penetração de algumas espécies de pragas que atacam os produtos armazenados. Não obstante, existem excepções como as pragas que atacam o produto já no campo ou a broca maior de grão, a qual consegue furar as camisas de milho, preferindo até o milho em camisa que o descamisado. Com estas técnicas de armazenagem, não existe o perigo de esmagar o grão antes da armazenagem durante a malhada, o que o toma susceptível aos ataques das pragas secundárias.
Neste lugar, deve-se mencionar a importância de uma secagem adequada. Os detalhes ao respeito, são tratados no capitulo 4.3.
Os únicos exemplos importantes referentes à transformação de cereais com o fim de melhorar as condições de aramzenagem, são tratamentos com intervenção de calor e humidade, como a preparação do bulgur utilizando trigo nos países árabes ou a prática do parboiling (semicocção), muito comum sobretudo na Asia para a preparação do arroz. Ambas técnicas mudam a estrutura, a densidade e a firmeza dos grãos, tornando-os menos atractivos para determinadas pragas de armazenagem que o grão cru.
O parboiling consiste em molhar o arroz cru em água fria ou quente durante períodos diferentes (até três dias), uma passagem pelo vapor e a secagem. Durante este processo, as células de amido tomam-se gelatinosas, fechando as possíveis fissuras nos grãos. As vantagens deste método são a redução dos ataques pelos insectos, menos danos como os que ocorrem durante a malhada, uma melhor retenção dos valores nutritivos e das vitaminas, e de maneira geral, um melhoramento das faculdades de armazenagem. Um parboiling efectuado com descuido pode resultar em mudanças de cor indesejadas e ocasionar um cheiro desagradável, sobretudo se as bainhas estavam infestadas com fungos, devido a uma secagem insuficiente depois da colheita.
10.2.1 Armazenagem estanque ao ar
Uma armazenagem estanque ao ar (ou hermética) evita a intrusão das pragas e causa a morte dos insectos que ficaram no armazém devido a uma falta de oxigénio e a um excesso de dióxido de carbono. Os requisitos prévios mais importantes para uma armazenagem hermética são estruturas estanques ao gás.
A armazenagem hermética vem sendo praticada com êxito em pequena escala por meio da utilização de frascos e potes de barro de fecho hermético ou garrafões para a armazenagem de sementes. As fossas subterrâneas são estruturas de armazenagem hermética tradicionais conhecidas desde os tempos pré-históricos. Sobretudo em climas áridos mostrou-se a utilidade da utilização de tambores de óleo vazios para uma tal armazenagem, voltando-se muito popular este métodos em determinadas regiões da África Ocidental. Ponto comum destes recipientes é o facto que os grãos armazenados devem estar bem secos e que devem ser protegidos de temperaturas extremas para evitar o desenvolvimento de condensação e de mofo.
Aplicações em grande escala da armazenagem hermética são conhecidas da Argentina durante a segunda guerra mundial e do Chipre, aonde foram construidos nos anos cinquenta recipientes cónicos cobertos de telhados de cimento em forma de cúpula. Estes "Cyprus bin" foram introduzidos no Quénia para armazenar as reservas nacionais de grãos.
Durante estes últimos anos, diferentes tipos de silos, armazéns e estruturas flexíveis, foram fechadas herméticamente com lonas de material plástico. A experiência mostrou que encontram-se materiais resistentes as condições climáticas tropicais, mas existem ainda vários aspectos que necessitam melhoramentos para que esta tecnologia possa ser considerada como alternativa. Alguns dos problemas não completamente resolvidos estão relacionados com a supervisão, a manutenção da qualidade do grão, a migração da humidade e com a condensação.
10.2.2 Gases inertes
A armazenagem numa atmosfera de gases inertes (gás carbónico e/ou azoto) não deixa aos insectos nenhuma possibilidade de sobrevivência. Ao utilizar azoto (N2), deve-se manter uma concentração de 97 a 99% para obter o resultado desejado. O teor em oxigénio deve ser mantido a menos de l %. No referente ao gás carbónico (CO2), convem manter uma concentração de aproximadamente 60%. Para esse fim, pode-se utilizar também o metano (CH4) produzido em instalações de gás biológico.
Existem três requisitos prévios para a utilização de gases inertes:
1. Disponibilidade de CO2 (em garrafas ou como produto de combustão de propano ou butano).
2. Armazéns estanques ao gás (ou pilhas de sacos cobertos herméticamente), os quais permitem a manutenção da concentração durante várias semanas.
3. Baixo teor em humidade do produto armazenado para evitar uma condensação.
Foram elaborados procedimentos detalhados para grandes armazéns de depósito permanente de grãos, pilhas de sacos com lonas, contentores para navios e embalagens em pequena escala. Os maiores obstáculos para uma utilização generalizada em países subdesenvolvidos, são os relacionados com os altos custos, a disponibilidade do gás e a falta de estruturas de armazenagem capazes de reter suficientemente o gás. O dióxido de carburo pode ser gerado no próprio lugar por meio de um sistema de bicos de gás. Dependendo do gás e da técnica de aplicação utilizada, o tempo mínimo de exposição varia entre 14 e 21 dias.
O gás carbónico tem um potencial especial para substituir o brometo de metilo no sector das quarentenas. Aplicado sob condições de pressão atmosférica normal, o tempo de exposição deve ser de 10 dias ou mais para garantir o controlo total dos insectos. Não obstante, no caso de uma concentração elevada (98%) e pressão alta (ate 30 kg/cm²), alcançam períodos de exposição de 5 a 20 minutos para obter uma mortalidade completa. Os elevados custos desta técnica (autoclave) limita o uso pelo momento às mercadorias valiosas.
As perspectivas futuras dos gases inertes seguramente não vão depender só dos custos, mas também do destino dos fumigatórios como o brometo de metilo, o qual será retirado do mercado mais cedo ou mais tarde. No futuro, o uso dos gases inertes pode significar também uma alternativa ao uso dos insecticidas numa série de países em vias de desenvolvimento.
10.2.3 Pós inertes
Nos últimos dez anos estão sendo aplicados comercialmente cada vez mais os pós inertes na Austrália (trata-se geralmente de silícios amorfos). Os três métodos de uso mais comuns são os seguintes:
- adição dos pós à mercadoria por meio de mistura, geralmente na proporção de 1 g/kg
- tratamento estrutural em paredes ou solos com pós secos ou suspensões aquosas
- adição do pó à superfície da mercadoria armazenada a granel.
Ao ser adicionado por meio de mistura ao grão, o efeito protector dos pos inertes dura normalmente pelo menos doze meses, o que é comparável com os produtos químicos clássicos. Os efeitos dos diferentes produtos variam consideravelmente e alguns deles não estão em condições de oferecer tanto controlo como os insecticidas químicos. Também é evidente que alguns insectos como o Sitophilus granarius não são muito sensíveis a este tipo de tratamento. A adição dos pós presenta o inconveniente de aumentar o polvilhamento do grão. Não obstante, na aplicação sobre superfícies, o efeito dos pós inertes não é de maneira nenhuma inferior ao dos insecticidas residuais.
Uma esperança prometedora ao nivel da armazenagem em grande escala consiste em tratar a superfície da mercadoria a granel com pós em combinação com um outro método de combate de pragas, como o restriamento ou a fumigação. No primeiro caso, o pó complementa o arejamento com ar frio e mata os insectos da camada superior, na qual eles tendem a se reunir. Ao ser aplicado junto com um fumigatório, o pó inerte age como uma barreira de gás e ajuda a obter concentrações adequadas perto da superfície.
Os pós inertes oferecem um determinado potencial para a utilização na protecção dos produtos armazenados. Esta técnica e comparável com o uso tradicional de pós e cinzas, presentando a vantagem de uma dosagem consideravelmente reduzida. Enquanto que as adições tradicionais de minerais são geralmente efectivas em concentrações de 40% ou mais, utilizam-se pós inertes como silícios amorfos numa relação de 1 a 2 % do peso da mercadoria. Durante uma pesquisa efectuada num laboratório, chegou-se a combater por um período de seis meses, entre outras, a espécie Prostephanus truncatus e o bruco do feijão. No futuro, e nos casos aonde o efeito protector não é considerado como sendo suficiente, pode-se intentar como solução a combinação de pós inertes com dosagens reduzidas de insecticidas clássicos.
Independentemente do tipo de armazenagem, o uso de pós inertes só éefectivo quando a humidade do grão é mantida a menos de 12% e a humidade relativa do ar é bastante baixa. Nas regiões tropicais húmidas, os pós inertes tendem a formar grumos rapidamente, perdendo assim o seu efeito. As regiões áridas e semiáridas oferecem condições climáticas ideais para este tipo de tratamento.
10.2.4 Utilização das altas temperaturas
Geralmente, as temperaturas de mais de 40°C matam rapidamente a maioria das pragas que atacam os produtos armazenados. Utilizam-se as vantagens deste método na secagem tradicional ao sol das colheitas. Distingue-se entre o tratamento com calor sob condições húmidas e sob condições secas. O inconveniente dos tratamentos em grande escala que utilizam as altas temperaturas, é o alto consumo de energia e a necessidade de equipamentos adequados. Este procedimento não deve ser aplicado no caso de sementes devido ao risco de influência da faculdade de germinação.
10.2.5 Utilização das baixas temperaturas
As baixas temperaturas têm como primeiro efeito uma redução da actividade alimentícia e da mobilidade dos insectos até alcançar a paragem total do desenvolvimento e levar à morte. A manutenção das baixas temperaturas no armazém requer técnicas complexas e o consumo de energia é muito alto. Em alguns casos particulares, pode-se tomar necessário armazenar sementes de alta qualidade em armazéns refrigerados. Devido a que os grãos possuem uma condutibilidade térmica fraca, é difícil refrigerar pilhas grandes ou grãos a granel. Além disso, existe o risco de formação de condensação durante o processo de refrigeração.
10.2.6 Tratamento utilizando radiações de ondas curtas
Outro método aplicável para matar os insectos que atacam os produtos armazenados, é a exposição dos mesmos a radiações de ondas curtas (gamma). A radiosensibilidade varia consideravelmente dependendo da espécie de praga. Os cereais podem ser desinfectados com uma dose de 0.5 Kilogray (kGy), as leguminosas com menos de 0.2 kGy. Os estádios mais sensíveis para os insectos são os dos ovos e das larvas. Ao utilizar a dose prescrita, não foram registadas até agora alterações nas propriedades físicas, químicas ou organolépticas dos produtos tratados. Existem algumas aplicações comerciais deste método, especialmente no caso de batatas e legumes. Não obstante, as aplicações são bastante limitadas até agora. Aproximadamente 40 países introduziram homologação para esse tipo de tratamento sobre alguns produtos.
As vantagens das radiações são:
- residuo nenhum
- penetração uniforme no grão
- nenhum perigo de desenvolvimento de resistência
- tratamento instantâneo.
Os inconvenientes das radiações dos produtos armazenados são:
- custos superiores aos dos tratamentos químicos devido à necessidade de investimentos iniciais
- radiações significam uma fase de manutenção suplementária
- necessidade de estruturas de armazenagem centralizadas
- capacidade limitada dos aparelhos irradiantes
- aceitação lenta por parte do consumidor final.
Devido a falta de resíduos, pode-se aplicar o tratamento à embalagem final do produto alirnentício. Não existe efeito residual, por isso o produto alimentício tratado deve ser protegido contra urna nova infestação por meio de embalagens apropriados ou outros métodos.
Devido aos equipamentos técnicos requeridos, aos gastos e a
falta de
aceitação por parte do consumidor, não é muito provável que
as radiações
gamma aumentem na sua importância corno método de tratamento de
grãos.
10.3 Métodos biológicos de combate
Todo organismo vivo tem inimigos naturais ou enfermidades que asseguram o equilíbrio da população. Os métodos biológicos de combate se servem destes antagonistas naturais das pragas. A vantagem principal dos métodos biológicos de combate é o facto de que, na maioria dos casos, estes métodos são toxicologicamente seguros. Apesar disso, devem-se estudar e considerar com muita atenção seus efeitos secundários sobre o ambiente. As possibilidades de aplicação dos métodos biológicos de combate contra as pragas que atacam os produtos armazenados são muito limitadas devido a algumas características particulares do ambiente de armazenagem:
- Nos países industrializados, nota-se geralmente uma tolerância nula com respeito a qualquer tipo de "impurezas" nos alimentos, incluído no que se refere a insectos úteis
- Os antagonistas das pragas que atacam os produtos armazenados são naturalmente muito sensíveis aos insecticidas de espectro amplo utilizados habitualmente
- Os antagonistas não gostam muito de viver nas condições oferecidas pelas grandes instalações de armazenagem como p.ex. os silos (pouca humidade, falta de substâncias nutritivas para os parasitoidas adultos, etc.)
Os métodos biológicos de combate permitem manter a quantidade de pragas a um nível baixo, mas não conseguem uma exterminação dos mesmos. Devido ao facto que é permitida uma determinada quantidade de pragas nos armazéns das pequenas herdades, existem possibilidades excelentes para o uso destes métodos de combate nestes casos de armazenagem.
Além disso, as restrições crescentes no que se refere ao uso de produtos de fumigação e insecticidas sintéticos, aumentaram a atractividade da aplicação de agentes biológicos para a protecção dos produtos armazenados. Igualmente, não devemos esquecer que a tolerância em relação à presença de todo tipo de "impurezas", pode variar. Nos celeiros tradicionais, tolera-se geralmente uma pequena quantidade de insectos. O mesmo é aplicável para o grão de forragem. Além do mais, é evidente que existem níveis no ciclo de produção, aonde as normas não precisam ser tão rigorosas como quando se trata de produtos prontos ou de grãos destinados à exportação.
Graças ao êxito obtido nos ultimos anos na área da pesquisa e da aplicação prática, os antagonistas mencionados a seguir poderiam ser utilizados como agentes biológicos de combate.
10.3.1 Predadores
Com o facto de ter soltado o Teretriosoma nigrescens, um coleóptero da família dos histeridas, para combater a broca maior de grão (Prostephanus truncatus) na República do Togo e no Quénia, foi dado um grande passo àfrente no combate biológico contra as pragas que afectam os produtos armazenados ao nível de- pequenos cultivadores. A broca maior de grão, introduzida por engano na Africa no fim dos anos setenta, propagou-se rapidamente, causando perdas numa dimensão nunca vista ate então (até 30% depois de seis meses de armazenagem). Todos os esforços tentados até então para dominar esta nova praga deram poucos resultados ou não foram aceitos pelos agricultores, sendo por isso que a GTZ e o Natural Resources Institute (NRI) elaboraram projectos de maneira a investigar a possibilidade de combate com métodos biológicos.
Entre os numerosos agentes investigados, resultou ser o antagonista T. nigrescens (também originário da América Central ao igual que a broca maior de grão o mais apropriado aos fins perseguidos. Depois de ter-se investigado com muita atenção o impacto dos predadores e os aspectos referentes à segurança, o T. nigrescens foi introduzido na República do Togo e soltado no principio do ano 1991.
A supervisão da libertação revelou uma redução substancial das perdas nos campos. Estes resultados encorajaram a elaboração de programas nacionais de combate em outros países, aonde as operações de libertação e de supervisão continuam até agora. Os métodos de reprodução do predador, a sua introdução no pais, a libertação e a supervisão, foram bem documentados e publicados, o que permite aos governos interessados adoptar facilmente esta técnica.
O problema da broca maior de grão não foi resolvido completamente com a libertação do T. nigrescens, mas chegou-se a controlar esta praga de maneira mais ou menos eficaz, graças a medidas apropriadas de combate integrado. Infelizmente, o T. nigrescens não tem, ou quase não tem, influência sobre outras pragas como p.ex. os Sitophilus spp. ou os Tribolium spp.
Outros predadores como o percevejo Xylocoris flavipes, um antocorida, são antagonistas que se encontram frequentemente nos celeiros tradicionais. Eles possuem um bom potencial para chegar à redução das populações de pragas, contanto que eles não sejam eliminados pelos insecticidas de amplo espectro. Mesmo quando não forem utilizados de propósito como agentes de controlo, eles podem, dentro do quadro de combate integrado contra os insectos daninhos que atacam os produtos armazenados, contribuir naturalmente a uma redução das perdas num ambiente livre de insecticidas, merecendo por isso uma protecção especial.
10.3.2 Parasitoidas
Investigações efectuadas recentemente abriram novas perspectivas no referente à utilização de vespas parasitoidas minúsculas nos armazéns de cereais. Estas espécies são geralmente muito específicas, ou seja especializadas em determinado tipo de pragas que atacam os produtos armazenados. Cabe aqui mencionar as espécies Trichogramma, as quais parasitam os ovos das traças. Algumas das espécies identificadas mostraram-se bastante eficientes nas estruturas de armazenagem Para garantir efeitos a longo prazo, a utilização das espécies Trichogramma requer libertações repetidas (inundantes) a intervalos determinados.
No referente às brocas nas leguminosas de grão, deve-se mencionar a espécie Uscana lariophaga, um parasitoida especializado em ovos que oferece boas perspectivas devido ao seu forte impacto sobre a espécie Callosobruchus maculatus nos armazéns da África Ocidental.
Uma série de parasitoidas de larvas como o Anisapteromalus calandrae, Choetospila elegans e outros, são encontrados frequentemente nos celeiros tradicionais não tratados com insecticidas químicos. O impacto atingido com essas espécies é considerável, por isso deveriam ser consideradas na elaboração de concepções para o combate de pragas integrado ao nível de armazenagem em herdades pequenas.
10.3.3 Agentes patogénicos
Agentes patogénicos (bactérias, vírus, protozoários) que são específicos para determinadas espécies mostraram seu potencial para assegurar um controlo satisfatório das populações de pragas nos campos. O Bacillus thuringiensis é a espécie mais utilizada entre os agentes de combate biológico. Nas condições de armazenagem, ele oferece as vantagens seguintes:
· ele é altamente tóxico para as traças que atacam os produtos armazenados
· o efeito dura vários meses
· tratamentos de superfície são suficientes.
As traças pirálides Plodia interpunctella e as espécies de Ephestia são especialmente sensíveis contra esta bactéria. Observou-se infelizmente urna grande resistência em várias ocasiões, de maneira que não é fácil estimar o B. thuringiensis como alternativa para os insecticidas sintéticos. Existe uma variedade chamada B. thuringiensis tenebrionis com um determinado potencial de combate contra os coleópteros que atacam os produtos armazenados, especialmente Rhyzopertha dominica. Esta variedade ainda requer investigações mais detalhadas.
Existem outros agentes patogénicos, como os fungos, os vírus e os protozoários que foram investigados, mas nenhum deles alcançou suficiente importância nos armazéns de cereais, devido aos efeitos letais limitados ou aos seus efeitos tóxicos secandários (micotoxinas) para os animais de sangue quente.
Mais do que os outros métodos de combate, estes procedimentos se servem do comportamento dos insectos, os quais vão contribuir assim à sua própria destruição. Utilizam-se com estes métodos as reacções naturais das pragas de armazenagem frente aos estímulos do ambiente.
10.4.1 Iscas
As iscas são utilizadas desde há muitos séculos. Mistura-se veneno nas substâncias alimentícias para atrair os animais alvo. Contanto que sejam tomadas todas as precauções necessárias, o método das iscas éecologicamente muito seguro.
Ocasionalmente utiliza-se esta técnica para atrair e combater insectos. Não obstante, utiliza-se principalmente este método no combate dos roedores. (Veja-se secção 11.7).
10.4.2 Feromones
Os feromones são estímulos naturais emitidos pelos insectos com o fim de estabelecer uma espécie de sistema de comunicação. Partindo das pragas que atacam os produtos armazenados, foi possível sintetizar substâncias sexuais (emitidas geralmente pela fêmea) ao igual que feromones de agregação (com efeito igual para os dois sexos). Na maioria dos casos, os feromones não são realmente utilizados como agentes de combate, mas servem nas tarefas seguintes:
· Estudo da composição das espécies
· Reconhecimento da infestação (supervisão)
· Estimação da densidade de população
· Definição das datas para a aplicação das medidas de combate
· Controlo do êxito das medidas de combate
Os feromones foram isolados e identificados a partir de mais de 30 espécies de insectos que atacam os produtos armazenados. A aplicação mais comum são as trapas com feromones com o fim de investigar, detectar e supervisar as traças pirálides, a espécie Lasioderma serricorne e as dermestas que atacam os produtos alimentícios transformados. As trapas em massa de traças machos não resultaram ser rentáveis. Entre outros, encontram-se no comércio feromones para as seguintes pragas importantes:
Coleópteros:
Lasioderma serricorne
Prostephanus truncatus (Broca maior de grão)
Rhyzopertha dominica
Stegobium paniceum
Tribolium castaneum
Tribolium confusum
Trogoderma granarium
Traças:
Sitotroga cerealella
Ephestia cautella
Ephestia kuehniella
Plodia interpunctella
Os machos das traças pirálides E. cautella, E. kuehniella e P. interpunctella podem até ser capturados com a mesma composição, o que torna relativamente rentável a supervisão dos mesmos.
Os feromones são ideais para a utilização em combinação com trapas. Existem diferentes tipos de trapas dependendo da espécie de praga e do fim desejado. A trapa de traças mais prática e a utilizada mais comummente é a trapa delta, a qual consiste num cartão parafinado dobrado duas vezes para formar um prisma aberto nas duas extremidades. As três faces interiores são cobertas então com um material colante. No fundo, encontra-se uma cápsula que contem o feromone. Os insectos voadores são atraidos pelo feromone e ficam colados sobre alguma das superfícies adesivas. Existem também modelos mais complicados e menos rentáveis como as trapas tipo funil ou com asas. Utilizam-se as pequenas trapas com cola para localizar as traças em lugares dificilmente acessíveis.
O alcance das trapas para insectos voadores é bastante limitado. No interior dos armazéns, os insectos reagem até uma distancia de 10 m. Para poder oferecer um alcance suficiente, deve-se pelo tanto colocar as trapas a uma distancia de aproximadamente 10 m uma da outra. Testes efectuados ao ar livre com a broca maior de grão mostraram que a distancia máxima de atracção é de 500 m, dependendo do vento.
Existem modelos de trapas símilares para diferentes espécies de coleópteros voadores (p.ex. P. truncatus). Os coleópteros rasteiros podem ser capturados com sondas de grãos colocadas verticalmente dentro da mercadoria a granel, sem necessidade de feromones. É lógico que as trapas de coleópteros com feromones facilitam a captura especifica. Existem também trapas de cartões ondulados tratados com insecticida e que contêm cápsulas com feromones (p.ex. para T. granarium). Estas trapas, ao igual que as trapas de janela, se servem do facto que os coleópteros têm a tendência de entrar em esconderijos. Para o T. granarium foi elaborada uma trapa mural, a qual se serve do comportamento trepador dessa espécie. Também existem outros tipos de modelos para determinadas espécies.
As trapas com feromones para insectos rasteiros têm um alcance ainda menor que as trapas para os insectos voadores. A distância máxima para a maioria dos modelos é de 1.5 m, de maneira que é difícil alcançar uma cobertura completa de toda a superfície. Recomenda-se colocar esse tipo de trapas em lugares vulneráveis, na entrada das instalações de armazenagem ou em lugares susceptíveis de aglomeração de insectos.
10.4.3 Atraentes
Alguns atraentes emanantes de produtos alimentícios produzem um efeito de atracção sobre determinadas pragas a uma distancia mais ou menos longa. Na prática, eles podem ser utilizados como os feromones. Em alguns casos, como p.ex. para o T. granarium, podem ser combinadas as iscas de substâncias alimentícias com os feromones para aumentar a atracção.
10.4.4 Repelentes
Alguns extractos de plantas possuem efeitos repelentes sobre as pragas que atacam os produtos armazenados. Isto é valido p.ex. para o neem já mencionado na secção 4.4.1.2.2. Os experimentos efectuados mostraram que a aplicação destas substâncias na prática é limitada.
10.4.5 Inibidores de crescimento
Foram efectuados esforços nos últimos tempos no referente à possibilidade de utilizar determinadas substâncias, as quais interferem no mecanismo complicado de desenvolvimento e de muda dos insectos. Utilizando estas substâncias, é possível perturbar o desenvolvimento de tal maneira que a descendência não é capaz de se reproduzir. Devem-se mencionar neste lugar as substâncias, cuja estrutura se parece com a das hormonas juvenís (análogas às das hormonas juvenís). A sua aplicação leva ao desenvolvimento de formas intermediárias dos estádios larval ou de transformação em crisálida, inaptos para a sobrevivência.
Os inibidores de crescimento e as substâncias análogas às hormonas juvenis incluem o methoprene, o fenoxycarb e o diflubenzuron. Estes sã o sufi cientemente persistentes no grão armazenado, mas presentam pouco efeito no caso das espécies Sitophilus. Na maioria dos casos, os inibidores de crescimento não podem ainda ser utilizados de maneira suficientemente efectiva como para que sejam considerados como uma alternativa dos insecticidas. Não obstante, existe um potencial para a aplicação do methoprene contra Lasioderma serricorne ou contra algumas raças resistentes aos preparados organofosforados de Rhyzopertha dominica e Oryzaephilus surinamensis. Experimentos mostraram também um potencial para a utilização do methoprene em combinação com um preparado organofosforado.
10.4.6 Variedades de culturas resistentes às pragas de armazenagem
Mostrou-se que uma grande quantidade de variedades de alto rendimento cultivadas no contexto da "revolução verde" são mais sensíveis a uma infestação com as pragas de armazenagem que as variedades locais. Os critérios seguintes poderiam ser responsáveis:
· menos dureza do envoltório da semente
· alteração da composição, por exemplo aumentando o teor em proteínas
· cheiro mais atraente, devido à alteração da composição do grão
· camisas de milho que não cobrem completamente as espigas, não oferecendo por conseguinte suficiente protecção
O facto de utilizar as diferenças entre as variedades pode ser considerado como uma excelente medida profiláctica, contanto que as variedades resistentes correspondam com as normas de qualidade necessárias. As variedades resistentes contra as pragas que atacam os produtos armazenados deveriam por conseguinte ter prioridade nos programas de selecção.
Excepto algumas utilizações especiais, como p.ex. a do pó inerte para o tratamento estrutural, não pode ser considerado nenhum dos métodos mencionados neste capitulo como alternativa apropriada para substituir os insecticidas. Não obstante, elas formam parte das estratégias de combate integrado contra as pragas de armazenagem, podendo contribuir no futuro àredução considerável da aplicação de produtos químicos.
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